Entrevista | A evolução da matriz energética e a importância da energia para sociedade

A EPE, Empresa de Pesquisa Energética, é uma empresa pública, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, que realiza as projeções da matriz energética nacional, o planejamento integrado dos recursos energéticos disponíveis no país de curto e longo prazo, bem como do planejamento da transmissão de energia. A EPE faz análises técnicas e econômicas com o objetivo de compor uma matriz energética ambientalmente sustentável, garantir o suprimento contínuo de energia que é um bem público de interesse coletivo e oferecer preços justos aos consumidores.

Além disso, a Empresa de Pesquisa Energética tem um papel fundamental na realização dos leilões de comercialização de energia elétrica, principalmente pela condução do processo de habilitação técnica dos empreendimentos participantes.

Nessa entrevista exclusiva, o presidente da EPE, Thiago Barral, fala sobre a evolução da matriz energética e a importância da energia para sociedade e para o crescimento econômico do país considerando as novas tecnologias.

Confira essa entrevista que mostra que nossa matriz energética conta com a participação das renováveis em uma proporção bem maior que a matriz mundial.

Como o Brasil deve conduzir a evolução de sua matriz energética, considerando a necessidade de aumentar a presença de matrizes limpas e, ao mesmo tempo, garantir a segurança energética e a estabilidade do sistema?

O Brasil dispõe de uma matriz energética primária significativamente renovável, tendo registrado uma participação de 45% dessas fontes em 2018. A média mundial foi de 14% em 2016, ano em que o Brasil registrou o valor de 43% para participação de renováveis em sua matriz. Quando consideramos a participação das renováveis para geração de eletricidade, esses números são ainda maiores, alcançando 83% de renováveis em 2018. Em 2016, esse percentual no mundo foi de 24% , enquanto  que no Brasil nesse mesmo ano essa participação foi de 82%.

Quando olhamos para frente, as perspectivas para os próximos dez anos apontam uma participação de renováveis na matriz energética brasileira da ordem de 48%, bem como para a manutenção da participação renovável na matriz elétrica, em torno de 86%. Não obstante, vislumbra-se uma expansão mais moderada das UHE e mais intensa das renováveis não convencionais (eólica, solar, PCH e biomassa).

O desenvolvimento de projetos de  UHE com reservatório e/ou reversíveis, a biomassa, a nuclear e as termelétricas a gás natural, bem como a transmissão (que permite o aproveitamento das complementaridades do sistema) e o gerenciamento pelo lado da demanda e expansão de geração distribuída, contribuem para assegurar a segurança energética e a estabilidade do sistema. Caso se provem competitivas, as tecnologias de armazenamento de energia também poderão ter um papel nesses requisitos do sistema.

Em particular, a modernização do setor elétrico coordenada pelo Ministério de Minas e Energia busca, entre outros objetivos, permitir a valoração correta dos atributos das fontes, de tal forma que a segurança energética e a estabilidade do sistema tornem-se intrínsecas à expansão competitiva das fontes. Ou seja, valorar as fontes por suas respectivas contribuições para o sistema elétrico. Vide, por exemplo, a discussão sobre separação entre lastro e energia.

Em suma, é possível harmonizar a maior presença de fontes renováveis não-despacháveis e, ao mesmo tempo, garantir a segurança energética e a estabilidade do sistema, caso os atributos das fontes e suas contribuições ao sistema elétrico sejam adequadamente valorados.

Considerando o crescimento de conceitos e tecnologias como carro elétrico, a internet das coisas, indústria 4.0, entre outras coisas, qual é a importância da energia para a sociedade e para o crescimento econômico do País? 

A importância da energia para a sociedade e para o crescimento econômico do País permanecerá significativa. O Brasil ainda é um país em desenvolvimento e precisa garantir o acesso a fontes de energia modernas a diversas camadas de sua população. A redução da pobreza energética é também um dos objetivos do desenvolvimento sustentável proposto pela ONU.

Por conseguinte, os ganhos de eficiência energética associados à transição energética e à era digital, como os conceitos e tecnologias mencionadas, poderão moderar o aumento do uso de energia da economia do Brasil, compensando parcialmente suas necessidades energéticas. Todavia, a energia permanecerá fundamental para garantir as atividades econômicas e para a sociedade brasileira como um todo. É preciso ter em mente também que uma coisa é a chegada dessas tecnologias no mercado e outra coisa o seu ritmo de disseminação no mercado, que dependerão sobretudo da competitividade dessas tecnologias.

Entenda um pouco mais sobre a EPE em nosso vídeo. Clique aqui e confira!

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