A energia do futuro em debate no Sendi 2018

O futuro do setor de energia esteve em pauta no Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica (Sendi 2018), realizado em Fortaleza, entre os dias 20 e 23 de novembro. Mais de 5 mil pessoas participarando evento, promovido pela Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) e organizado pela Enel Distribuição Ceará. O fomento da inovação e a inclusão de novas tecnologias no sistema elétrico foram os assuntos centrais dos debates. Atender a demanda da sociedade por mais protagonismo, sem deixar de lado a universalização da rede de energia, serviço público com maior penetração entre os brasileiros, é o principal desafio a ser enfrentado nos próximos anos.

A evolução da geração distribuída (GD), modelo em que o consumidor pode gerar sua própria energia, esteve em destaque nas discussões sobre regulação. O tema ganhou atualidade em razão da revisão da Resolução Normativa nº 482, norma que regulamenta o acesso dos usuários de micro e minigeração às redes elétricas e cria o Sistema de Compensação de Energia Elétrica. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) irá rediscutir a 482, instituída em 2012, no primeiro semestre do próximo ano. Para o atual diretor-geral do órgão regulador, André Pepitone, nessa revisãoé preciso conciliar interesses antagônicos que estão surgindo em consequência das mudanças que irão ocorrer no setor nos próximos cinco anos. “A inovação está transformando a relação do consumidor com o setor elétrico”, afirmou Pepitone.

O debate gira em torno do melhor modelo de incentivo para a geração distribuída. Segundo Nelson Leite, presidente da Abradee, o vínculo entre a GD e as redes de distribuição de energia é inabalável. “Somos favoráveis à microgeração distribuída porque ela é inexorável. Mas é preciso considerar a sustentabilidade do sistema”, disse Leite. “Há uma simbiose nesse processo.”

Pelo modelo atual, a energia excedente da micro e minigeração é os adeptos da GD, ao compartilharem no sistema a eletricidade que produzem usando painéis solares ou outras tecnologias, ganham créditos equivalentes ao valor da energia que recebem da distribuidora. Ou seja, eles deixam de pagar diversos custos relacionados ao serviço, como a transmissão e os encargos, o que configura um subsídio oculto.

Há, atualmente, cerca de 60 mil usuários de GD no País. No contexto total do setor elétrico, de 84 milhões de unidades consumidoras, o número ainda é pequeno, gerando pouco impacto. Porém, ele vem crescendo exponencialmente. Segundo a Aneel, atualmente, estão sendo adicionados à redecerca de 130 sistemas de geração distribuída por dia. O crescimento do segmento, nos últimos anos, ultrapassa a marca dos 1.000%. A questão é até quando esse sistema de subsídio implícito irá se mostrar vantajoso para a sociedade, considerando que existe, na prática, uma transferência de recursos para um grupo reduzido de usuários. “O ideal é resolver o problema enquanto ele é pequeno”, ressaltou o presidente da Abradee.

Essa visão foi corroborada pelo diretor-executivo da Associação de Empresas Elétricas do Chile, Rodrigo Castillo. A questão também foi tema de intensos debates no setor elétrico chileno, que optou por um modelo diferente do adotado pelo Brasil. Castillo classificou essa questão do subsídio oculto como o “espiral da morte da geração distribuída”. “Em determinado momento, irá se chegar a um ponto em que a maioria dos consumidores estará pagando pelo benefício de uma minoria”, afirmou Castillo. A solução encontrada foi investir na modernização do sistema de distribuição, com a troca dos medidores convencionais pelos digitais, que trazem uma série de vantagens para todos os usuários, inclusive os adeptos da GD. “Houve um pequeno impacto tarifário decorrente dessa escolha, mas o esforço foi pequeno diante das melhorias que a modernização do sistema irá proporcionar”, afirmou o diretor chileno, ressaltando que essa foi uma escolha da sociedade que beneficiou a todos os cidadãos.

A Itália está passando por um processo semelhante ao chileno. Segundo Alberto Biancardi, comissário da Autoridade Regulatória para Energia da Itália, nos próximos três anos serão instalados os equipamentos mais modernos de medição que permitirão a leitura em tempo real de uma série de parâmetros, facilitando a interação entre as distribuidoras e os consumidores e também com os órgãos reguladores. Éessa modernização que vai viabilizar o crescimento da geração distribuída e, consequentemente, das fontes renováveis de energia, notadamente a fotovoltaica e a eólica.

 

Promovendo a inovação

Antes mesmo da programação oficial começar, o Sendi já realizava iniciativas de promoção à inovação. É o caso do Hackaton que aconteceu na véspera do início do evento. Durante 36 horas, 105 jovens empreendedores, visionários e apaixonados pela tecnologia participaram de uma maratona de desenvolvimento. Divididos em 21 equipes, eles competiam por um prêmio de R$ 10 mil destinado às melhores soluções criadas para as duas problemáticas propostas: compartilhamento de redes (soluções para o uso de postes por diversas operadoras) e cadastro de dados de clientes (busca de soluções para melhor conhecimento sobre os clientes). As equipes vencedoras foram a High Five, na categoria compartilhamento de redes, e a Arre Égua,que teve a melhor ideia para o cadastro de dados de clientes.

O pessoal da High Five propôs como solução a criação de uma startup chamada Catch, que facilita a leitura dos dados com o uso de carros adaptados com equipamentos capazes de fotografar os postes e fazer a leitura, em tempo real, das possíveis fiações irregulares. Além disso, os consumidores teriam à sua disposição um aplicativo para também fotografar e denunciar eventuais suspeitas de irregularidades. Já o time Arre Égua propôs um sistema, batizado de Cap Data, que capta diversas fontes de dados, de diferentes aplicativos, cruzando as informações para obter um cadastro mais preciso dos consumidores. “Acredito que cumprimos nosso principal objetivo: trazer soluções inovadoras para problemas do setor elétrico. Vimos várias ideias com potencial de execução e isso mostra que as equipes entenderam bem as necessidades. O Hackathon serviu como um abre alas em grande estilo para o Sendi”, afirmou Glauco Valério, secretário-geral do seminário.

Além do Hackaton, o Sendi também promoveu um evento paralelo voltado às startups: o Demoday. Realizado pela primeira vez, a iniciativa reuniu 25 startups que tiveram a oportunidade de apresentar suas soluções inovadoras nos palcos principais do seminário. Os participantes também puderam se atualizar por meio da tradicional apresentação de trabalhos técnicos que, neste ano, reuniu 274 projetos. A abrangência da programação e o grande sucesso do evento consolidaram o Sendi como o principal fórum de discussão do setor elétrico e um importante instrumento para o fomento da inovação.

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